Manejo da Resistência a Fungicidas
Como a Resistência a Fungicidas se Desenvolve?
Fonte: CropLife International
O desenvolvimento da resistência a fungicidas é um processo mais complexo do que parece. Ele é influenciado por diversos fatores, tais como sistema de cultivo, patógeno, fungicida, clima e, mais importante, habilidade e vontade de produtores de implantar estratégias de manejo de resistência. As publicações a seguir fornecem uma visão geral dos esforços mundiais para combater os problemas em proteção de cultivos causados pelo desenvolvimento da resistência a fungicidas.
Um trecho das publicações é mostrado abaixo:
Definição de resistência a fungicidas
O termo resistência a fungicidas, conforme usado pelo FRAC, refere-se a uma redução hereditária adquirida da sensibilidade de um fungo a um agente antifúngico específico (ou fungicida). Para administrar de forma eficaz a resistência, cientistas estudam a resistência a fungicidas em diversos níveis, incluindo o celular, do organismo ou da população/campo. Relatos de “resistência” a partir do campo (ou seja, onde produtores observaram eficácia reduzida de um produto que era eficaz contra um determinado patógeno) devem ser confirmados por estudos nível organismo mostrando uma redução da sensibilidade de isolados fúngicos a um específico fungicida. Alguns cientistas usam os termos sensibilidade reduzida ou tolerância quando se referem a reduções menores de sensibilidade as quais não impactam ou pouco impactam o uso do fungicida no campo e reservam o termo “resistência” para grandes reduções de sensibilidade de isolados individuais os quais provavelmente afetarão a eficácia de um determinado fungicida, sob condições do campo, se os isolados resistentes se espalharem pela população patogênica. O termo resistência em campo também pode ser usado para indicar esta perda de controle sob condições de campo.
O desenvolvimento da resistência a fungicida é um processo evolucionário da população. Fungos, como outros organismos, estão constantemente mudando. Ocasionalmente, sob determinadas condições, tais mudanças promovem vantagem ou desvantagem com relação à habilidade da progênie em sobreviver e se reproduzir. Mudanças vantajosas permitem que o indivíduo mutante sobreviva e se reproduza permitindo que sua progênie constitua maior porcentagem da população sobre as gerações vindouras. Isto pode acontecer de forma relativamente rápida em fungos, pois sua frequência reprodutiva (ou seja, o número de progênies produzidas a partir de um único indivíduo e a velocidade com que elas completam seu ciclo de vida) é alta. Por exemplo, uma única lesão de Phytophthora infestans pode produzir milhares de esporos e um esporo pode produzir uma nova lesão esporulada em 3 a 5 dias. A mudança pode ser evolutivamente neutra, ou até mesmo levemente desvantajosa sob a maioria das condições e ser vantajosa somente quando determinados fatores estão presentes. Este é o caso da resistência a fungicidas. Na maioria dos casos de resistência a fungicidas, a mudança que levou à redução da sensibilidade é evolutivamente neutra, exceto quando o fungicida específico é aplicado. O fungicida está exercendo pressão de seleção sobre a população patogênica uma vez que ele está matando a população inicial (ou silvestre), porém, não mata a população alterada (ou mutante). Quando mudanças são levemente desvantajosas sob condições normais (ou seja, na ausência do fungicida), a frequência da população mutante pode reduzir quando a pressão de seleção é retirada. Esta desvantagem é chamada de penalidade de adequação ou termo em inglês “fitness penalty”.
Monitoramento da Resistência
O monitoramento da resistência é crucial para entender por quais mudanças a população pode estar passando. Antes do lançamento de novos ingredientes ativos como novos produtos, deve-se estabelecer uma linha de base ou “baseline”. O baseline descreve a sensibilidade de um grupo de isolados a um determinado fungicida ao qual eles não haviam sido previamente expostos. É importante estabelecer métodos validados para criar o baseline, assim como monitorar a população patogênica assim que estabelecido o baseline, pois métodos diferentes podem resultar em diferentes parâmetros de sensibilidade. A sensibilidade de diversos fungos pode ser mensurada em simples estudos de ágar, enquanto que patógenos obrigatórios tem a necessidade de serem testados em material vegetal vivo (geralmente discos de folhas para aumentar o rendimento). Durante estes testes de sensibilidade, múltiplas doses de fungicida são usadas para determinar um EC50 que signifique controle efetivo a 50% (ou seja, a dosagem que oferece 50% de inibição do isolado comparando com um controle não alterado por fungicida). Estes valores EC50 são diagramados em um histograma de frequência para determinação do baseline (Fig. 1). Amostragem adequada da população é necessária para mensurar a variabilidade inerente da sensibilidade da população ao fungicida.
Fig. 1A. Exemplo hipotético de um baseline para um fungicida mostrado como histograma de frequência. 1B. Histograma de frequência mostrando resistência quantitativa ou resistência tipo “shift”. 1C. Histograma de frequência demonstrando detecção precoce de resistência qualitativa. Neste exemplo, poucos isolados, os quais estão circulados em vermelho, que estavam fora do baseline, foram detectados. 1D. Histograma de frequência exemplificando resistência qualitativa depois que significante pressão de seleção alterou a população a um valor EC50 médio muito maior.
Monitoramento rotineiro da população de campo pode, então, ser realizado via coleta de novos isolados e comparando sua sensibilidade com o baseline. Se o valor EC50 médio das amostras coletadas for estatisticamente maior do que o valor EC50 médio do baseline, então a sensibilidade da população mudou (Fig. 1B, ano 5). Se a pressão de seleção continuar sendo exercida sobre a população, o valor EC50 médio pode mudar ainda mais (Fig. 1B, ano 10). Este tipo “shift” de resistência é chamado de resistência quantitativa (ou multietapas ou contínua). Em média, estes isolados são controlados por dosagens levemente mais altas de fungicida no bioensaio laboratorial. Nas etapas iniciais da resistência quantitativa, o fungicida em questão pode ainda promover controle adequado sob condições de campo nas dosagens atuais de uso. Conforme o valor EC50 médio da população aumenta, dosagens mais altas de fungicida podem ser necessárias para promover controle. Os produtores devem sempre seguir as informações fornecidas nos rótulos quando da aplicação de fungicidas.
Ocasionalmente, isolados são encontrados com valores EC50 significantemente maiores do que a média do parâmetro (Fig. 1C em círculo vermelho). Estes indivíduos são considerados resistentes, uma vez que a dosagem necessária para controlar estes isolados é muito maior e pode não ser prática em condições de bioensaio laboratorial. O termo resistência qualitativa (ou disruptiva ou discreta) é usado para descrever este tipo de resistência. Dosagens mais altas necessárias para controlar estes isolados podem ser ainda menos prováveis de serem praticadas sob condições de campo. Se, ou quando, estes isolados tornam-se prevalentes na população, perda significativa de atividade provavelmente será observada por produtores.
Onde o monitoramento da resistência não é prática habitual, problemas de resistência são geralmente primeiro identificados quando produtores observam uma significante falta de controle de produtos previamente eficazes. Amostras de doença são, então, coletadas destes campos para confirmar a redução da sensibilidade sob condições controladas no laboratório. Esta etapa de confirmação é crucial, pois existem vários motivos pelos quais produtos anteriormente eficazes podem deixar de ser eficazes em um determinado campo (ou seja, pressão intensa da doença, cobertura incompleta da aplicação, dosagem não precisa, intervalo de aplicação, etc.). Se a redução da sensibilidade for confirmada, os isolados resistentes provavelmente já são prevalentes na população daquele campo em particular, pois já se observou perda significante da eficácia. Amostragem de áreas ao redor pode ajudar os produtores a entender como está a disseminação de isolados resistentes e pode oferecer orientações sobre o uso do produto na próxima safra para manejo da resistência. Monitoramento rotineiro é recomendado sempre que possível com expectativa de que os cientistas possam identificar indivíduos resistentes antes que eles se espalhem na população patogênica. Boas práticas de manejo da resistência serão úteis para manter indivíduos resistentes em baixa frequência na população de tal forma que o fungicida de interesse continuará oferecendo boa eficácia sob condições de campo.
Para outras informações sobre a resistência a fungicidas e monitoramento da resistência:
FRAC Monograph 1: Fungicide Resistance in Crop Pathogens: How can it be managed?
FRAC Monograph 3: Sensitivity Baselines in Fungicide Resistance Research and Management
Modo de Ação
Fungicidas inibem o crescimento fúngico interferindo em processos celulares críticos. Modo de ação (MDA) refere-se ao processo celular específico inibido por um fungicida em particular. O FRAC atualmente relaciona 11 modos de ação em sua Poster de Modos de Ação e em sua Lista de Códigos (Tabela 1, coluna 1). Fungicidas podem ter um modo de ação que não é totalmente entendido no momento da introdução. Até que exista evidência específica dos processos bioquímicos envolvidos, o FRAC relaciona compostos como “Modo de Ação Desconhecido” na relação de códigos FRAC.
Dentro de cada modo de ação, existem específicos sítios de ação. Estes sítios de ação ou sítios alvo são enzimas específicas em um processo celular às quais os fungicidas ligam-se. Por exemplo, tanto fungicidas estrobulinas como fungicidas SDHI compartilham o mesmo MDA (inibição da respiração), porém, têm diferentes sítios de ação na via respiratória; SDHIs inibem o complexo II, enquanto as estrobulinas inibem o complexo III. Na literatura farmacêutica, a inibição de uma determinada enzima é referida como mecanismo de ação (alguns fitopatologistas usam o termo mecanismo de ação intercambiando com modo de ação). O FRAC atribui um número a ativos compostos no mesmo sítio alvo (ou seja, os SDHIs são FRAC grupo #7 na Relação de Códigos FRAC).
Para entender a interação bioquímica do fungicida com o sítio alvo específico, a analogia ao uso de fechadura e chave para abrir uma porta é útil. A fechadura é o sítio alvo na enzima e a chave é o substrato natural com o qual a enzima interage para concluir os processos celulares normais (análogo ao destravamento da porta). A atividade dos fungicidas naquele sítio alvo são um conjunto adicional de objetos parecidos com uma chave os quais podem igualmente encaixar na fechadura. Se uma destas chaves “artificiais” estiver na fechadura, a(o) chave/substrato normal não pode encaixar na fechadura e o processo fúngico bioquímico é bloqueado (a porta não pode ser destravada). Dentro da célula, o fungicida e o substrato competem pela fechadura/local alvo. Como o fungicida acumula na célula, o substrato normal não pode mais acessar o local alvo e os processos celulares normais alcançarão tal nível baixo, ou podem ser bloqueados completamente permitindo que efeitos adversos sejam observados. Embora os fungicidas compartilhem similaridades com o substrato fúngico por suas estruturas tridimensionais, eles não são idênticos. É possível que alterações ocorram na fechadura/sítio alvo permitindo que o substrato fúngico continue a ligar-se e os processos celulares continuem prosseguindo, porém não permitindo que o fungicida se ligue (ou seja, a fechadura pode ser alterada de forma que a chave original continue funcionando para destravar a porta, porém o fungicida tipo chave não encaixe mais na fechadura). Esta situação resulta em um tipo específico de resistência conhecido como resistência ao sítio alvo.
Fungicidas ativos no mesmo sítio alvo (ou seja, que estão dentro do mesmo número de código FRAC na Lista de Códigos FRAC) são geralmente considerados com resistência cruzada entre si. Resistência cruzada é um fenômeno que ocorre quando a resistência a um fungicida surge, resultando igualmente em resistência a outro fungicida. Ocasionalmente, resistência cruzada pode ocorrer entre compostos ativos que atuam em diferentes sítios alvo (consulte resistência a multidrogas, sob o item mecanismos de resistência, abaixo). O sítio alvo real não é completamente entendido para alguns fungicidas, portanto a descrição do sítio alvo permanece genérica. Por exemplo, a descrição do local alvo de azanaptalenos é a transdução de sinal. Os dois azanaptalenos, quinoxifeno e proquinazida, estão agrupados juntos no mesmo grupo FRAC, uma vez que resistência cruzada foi observada em Erysiphe necator. Curiosamente, nenhuma resistência cruzada foi observada em outras espécies de oídio, Blumeria graminis (Genet e Jaworska, 2009). Resistência cruzada negativa também pode ocorrer. Resistência cruzada negativa ocorre quando uma mudança resulta em redução da sensibilidade a um fungicida e aumento da sensibilidade a outro fungicida. Por exemplo, isolados de Botrytis cinerea com sensibilidade reduzida a fungicidas benzimidazol (FRAC grupo #1 na Lista de Códigos FRAC) tem elevada sensibilidade a N-fenil carbamatos (FRAC grupo #10 na Lista de Códigos FRAC; Leroux et al 1989).
Mecanismos de Resistência
São quatro os principais mecanismos através quais os fungos podem se tornar resistentes a fungicidas.
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Alteração do sítio alvo de forma que a sensibilidade ao fungicida é reduzida: Seguramente a forma mais comum pela qual fungos podem se tornar resistentes a um fungicida específico é através da mudança do sítio alvo. Conforme os fungos crescem, seu DNA é replicado quando novas células são criadas. Este processo de replicação é imperfeito e erros podem ocorrer. Estes erros são conhecidos como mutações. Uma vez que o DNA é o código usado para a produção de enzimas na célula, algumas mutações resultam em mudanças na sequência do amino ácido do sítio alvo o qual, por sua vez, muda o formato fechadura/ sítio alvo. O fungicida/chave pode não mais se encaixar direito ou pode não se encaixar de forma alguma no sítio alvo/fechadura. Isto resulta em redução da sensibilidade que pode variar entre pequena e muito grande.
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Desintoxicação ou metabolismo do fungicida: A célula fúngica contém uma ampla gama de maquinário metabólico para processos celulares normais. Este maquinário metabólico pode ser capaz de modificar o fungicida para uma forma não tóxica que deixe de ser prejudicial à célula. Alguns fungicidas são aplicados como pro-fungicidas inativos os quais requerem metabolismo complementar através da célula fúngica para tornarem-se forma ativa. Se o metabolismo fúngico for alterado de forma que a fase de ativação não ocorra, a forma ativa do fungicida não é produzida.
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Superexpressão do alvo: Conforme discutido acima, o fungicida está “competindo” com o substrato natural pelo sítio alvo. Conforme mais e mais fungicidas entram na célula, eles competem por fora com o substrato natural pelo alvo e, como resultado, desliga os processos celulares críticos. A produção da enzima sítio alvo adicional (ou seja, superexpressão do alvo) pode aumentar a probabilidade de suficiente substrato fúngico ser capaz de ligar-se à enzima sítio alvo de forma que os processos celulares, tais como respiração, podem ocorrer em algum grau. Dosagens mais altas de fungicida em experimentos in vitro podem restaurar o equilíbrio a favor do fungicida, porém, dosagens mais altas podem não ser sempre práticas sob condições de campo.
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Exclusão ou expulsão do sítio alvo: Bombas de efluxo existem naturalmente dentro da célula para excluir ou expelir substâncias estranhas ou para exportar substâncias endógenas. Em fungos, as bombas de efluxo mais comuns são os transportadores ABC e MFS. Apesar destas bombas de efluxo, a maioria dos fungicidas podem alcançar concentrações eficazes dentro da célula e inibir processos celulares. Ocasionalmente, estes transportadores expelem, com sucesso, suficiente fungicida de forma que um isolado tenha a sensibilidade reduzida. Os fungicidas expelidos da célula através de um transportador específico pode ou não ser ativo no mesmo sítio alvo; ou seja, não há relação direta entre o transportador que expele um fungicida específico e o sítio alvo do fungicida. Resistência a multidrogas (RMD) se desenvolve quando um transportador específico é capaz de excluir múltiplos fungicidas de diferentes grupos de local alvo. Aplicação dos fungicidas em questão pode exercer pressão de seleção suficiente de forma que isolados contendo estes transportadores de exportação de fungicidas se tornem mais prevalentes na população como é o caso em Botrytis cinerea (Kretschmer et al. 2009).
Referências
Genet JL, Jaworska G. Baseline sensitivity to proquinazid in Blumeria graminis f. sp. tritici and Erysiphe necator and cross‐resistance with other fungicides. Pest management science 2009; 65(8): 878-884.
Leroux P, Gredt, M. Negative cross-resistance of benzimidazole-resistant strains of Botrytis cinerea, Fusarium nivale and Pseudocercosporella herpotrichoides to various pesticides. Netherlands Journal of Plant Pathology 1989; 95(1): 121-127.
Kretschmer M, Leroch M, Mosbach A, Walker AS, Fillinger S, Mernke, D, Schoonbeek HJ, Pradier JM, Leroux P, De Waard M, Hahn M. Fungicide-driven evolution and molecular basis of multidrug resistance in field populations of the grey mould fungus Botrytis cinerea. PLoS pathogens 2009; 5(12);e1000696.
Manejo de Resistência a Fungicidas
Não use o mesmo produto exclusivamente
Aplique-o como mistura com um ou mais fungicidas de tipo diferente ou como componente em rotação ou alternância de diferentes tratamentos fungicidas.
Os compostos ‘acompanhantes’ ou ‘parceiros’ aplicados em uma destas formas diluirão a pressão de seleção exercida pelo fungicida em risco e inibirão o crescimento de qualquer biotipo resistente que ocorra. O composto acompanhante pode ser um composto multissítio do qual se tenha conhecimento que tem baixo risco de induzir resistência. Alternativamente, ele pode ser um fungicida sítio único de ação sem resistência cruzada relacionada a seu parceiro (na ausência de resistência conhecida) de modo similar de ação. O uso de mistura de dois fungicidas de sítio único de ação deve carregar algum elemento de risco de seleção de cepas resistentes duplas. No entanto, as chances de duas mutações ocorrerem simultaneamente serão muito pequenas comparando com a mutação única (ou seja, 10-18 em vez de 10-9). Consecutivo desenvolvimento de resistência dupla pode ocorrer, porém, a probabilidade é muito menor do que se dois fungicidas forem usados separadamente e repetidamente.
Este tipo de estratégia é amplamente recomendado pela indústria e por órgãos conselheiros. O uso de misturas formuladas (pré-embaladas) de dois fungicidas diferentes tem sido frequentemente favorecido por fabricantes. Se um fungicida em risco não for vendido sozinho, a mistura é a única opção ao produtor e a implantação da estratégia é garantida. Igualmente, o controle de vários patógenos somente requer um ou dois tratamentos por ano de forma que a abordagem rotacional não é aplicável. Misturas também são comercializadas para outros fins, tais como ampliação da faixa de patógenos que podem ser controlados ou melhoria do controle aumentando a duração da proteção. Questões sobre qual taxa de aplicação é adequado para cada componente da mistura são difíceis e foram debatidas diversas vezes. Alguma redução relativa a taxas separadas recomendadas tem sido frequentemente feita para manter os custos baixos. Isto pode reduzir a pressão de seleção para o fungicida ‘em risco’, porém, claramente é vitalmente importante manter o composto acompanhante em um nível onde ele ainda possa exercer ação independente eficaz contra os patógenos alvo.
Pesquisa teórica e empírica, assim como experiência prática, sugerem que estratégias de mistura e rotação atrasaram o desenvolvimento da resistência (exemplos foram discutidos na FRAC-Monografia 1). No entanto, avaliações totalmente conclusivas de estratégias em escala comercial são difíceis de fazer porque áreas ‘sem estratégias’ comparáveis raramente existiram.
Restrinja o número de tratamentos aplicados por estação
Esta abordagem, como a rotação, reduz o número total de aplicações do fungicida em risco e, portanto, desacelera a seleção de alguma forma. Ela pode, inclusive, favorecer o declínio de cepas resistentes que possuem penalidade de adequação ou “fitness penalty”. No entanto, os tratamentos, os quais ainda são aplicados consecutivamente, geralmente coincidem com a maioria dos estágios ativos de epidemias quando as pressões de seleção são mais altas. Desta forma, qualquer atraso na resistência pode não ser proporcional à redução do número de pulverizações. Por outro lado, uma interrupção substancial no uso em um momento quando o patógeno ainda está se multiplicando pode permitir ressurgimento benéfico de formas mais sensíveis. Exemplos são mostrados mais tarde.
Mantenha a dosagem recomendada por fabricantes
Por vários anos, produtores frequentemente aplicaram dosagens reduzidas de fungicidas, principalmente para reduzir custos. A prática é comum especialmente em condições em que a pressão da doença é usualmente baixa ou onde o risco de perda financeira consequente do desempenho reduzido não é alto. Igualmente, serviços de aconselhamento que recomendam seguir abordagens de menor inserção por motivos econômicos e ambientais têm recomendado o uso de dosagens menores em determinadas situações. O ponto de vista do FRAC é que as dosagens recomendadas devem ser mantidas, não somente porque elas reterão o fator de segurança da inserção e garantirão os níveis declarados de desempenho sob uma faixa mais ampla de condições, mas, mais importante, porque é possível que reduzindo a dosagem pode-se aumentar o desenvolvimento de resistência.
No entanto, relações entre dosagens de fungicida e risco de resistência ainda não estão totalmente estabelecidas e parece provável que elas podem variar de acordo com o fungicida em questão. Alguns dos modelos referidos acima indicam que a redução da dosagem do fungicida em risco (porém, mantendo a frequência de pulverização normal) pode atrasar o desenvolvimento da resistência dos principais genes reduzindo a eficácia geral, aumentando os números de sobreviventes sensíveis e, consequentemente, desacelerando a seleção de formas resistentes que podem sobreviver à dosagem total. Para resistência multifases, discutiu-se que a redução da dosagem pode aumentar o desenvolvimento da resistência favorecendo a sobrevivência de genótipos resistentes de baixo nível os quais seriam inibidos pela dosagem total. As cepas resistentes de baixo nível poderiam, então, mutar ainda mais ou recombinar sexualmente para chegar a níveis mais altos de resistência. Na prática, no entanto, as dosagens que realmente afetam os organismos alvo variam enormemente com o espaço e tempo, promovendo misturas muito complexas de diferentes sequências de exposição (exemplos são discutidos na FRAC-Monografia 1).
Agora é amplamente aceito, sob fundamentos teóricos, de dados experimentais limitados e experiência prática, que é improvável que os riscos de resistência do gene principal (fase única) aumentem e possam diminuir conforme a dosagem é reduzida. A situação com relação à resistência poligênica ainda não está clara e outros estudos experimentais são necessários para justificar as recomendações de redução das dosagens. Alguns dos dados publicados referem-se especificamente a cronogramas de ‘divisão’ nos quais a dosagem é reduzida, porém, a frequência de aplicações é correspondentemente elevada, para oferecer a mesma quantidade total aplicada de fungicida em cada safra. É importante distinguir estas de aplicações com dosagem reduzida feitas em intervalos normalmente programados de forma que a dosagem total por safra é reduzida. Na verdade, o uso de aplicações ‘divididas’ mais frequentes pode aumentar o risco de resistência e deve ser evitado.
Evite o uso erradicante
Uma das vantagens dos fungicidas sistêmicos é que eles podem erradicar ou curar infecções existentes. Esta propriedade ajuda enormemente seu uso em uma base de ‘limiar’, onde a aplicação é feita somente quando uma determinada, economicamente aceitável, quantidade de doença já se espalhou, para evitar maior disseminação. No entanto, a prevenção do uso de fungicidas sistêmicos nesta forma foi recomendado em duas situações diferentes como estratégia antirresistência.
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O FRAC recomendou que o uso erradicante de fenilamidas fosse evitado. Isto porque elas agora são sempre aplicadas para controle de doenças foliares como mistura com parceiro fungicida multissítio. O último não funciona como erradicante de forma que o fungicida sistêmico, ou seja, a fenilamida, está agindo sozinha quando a mistura é aplicada em infecções existentes.
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Oportunidade para seleção pode ser muito maior do que se o fungicida foi aplicado como tratamento preventivo por manter populações permanentemente baixas. Quando modelos de previsão e populações limite são usados para determinação do intervalo de pulverizações, então a população limite do patógeno está presente. Usualmente isto significa que muitas lesões esporuladas (ocupando até 5% da área foliar) estão expostas ao fungicida.
Manejo integrado da doença
Este é um aspecto particular do conceito geralmente referido como MIP (Manejo Integrado de Pragas). O uso integrado de todos os tipos de medidas contra uma doença de cultivo não é somente altamente desejável economicamente e ambientalmente, mas é igualmente uma estratégia maior para evitar ou atrasar a resistência a fungicidas. O uso de variedades resistentes a doenças, agentes de controle biológico e práticas higiênicas adequadas, tais como rotação da cultura e remoção de partes doentes de plantas perenes, reduz a incidência de doenças e permite uso mais regrado de fungicidas e em ambas formas reduz a seleção de cepas resistentes a fungicidas. Igualmente, a aplicação de fungicidas reduz o risco de desenvolvimento de patótipos com virulência alterada e consequente ‘colapso’ de variedades resistentes a doenças. Infelizmente, métodos não químicos de controle de doenças são frequentemente fracos ou não estão disponíveis, de forma que a aplicação de fungicidas é medida predominante ou até mesmo única para diversas doenças (ex., requeima na batata, oídio da uva, doença de Sigatoka em bananas, ferrugem do trigo, só para enumerar algumas).
Diversidade química
A disponibilidade de uma série de diferentes tipos de fungicidas para o controle de cada principal doença de culturas é altamente benéfica tanto para o meio ambiente quanto para reduzir problemas de resistência. Uso contínuo de um ou de vários poucos tipos de composto ao longo dos anos apresenta risco muito maior de efeitos adversos e favorece a resistência nos organismos alvo. Portanto, é fundamental que a invenção química e o desenvolvimento de novos produtos sejam sustentáveis. Felizmente, autoridades de registro agora aceitam a necessidade de diversidade com relação à química dos pesticidas e mecanismos de ação, desde que os novos compostos mantenham padrões de segurança. Um novo fungicida não necessariamente tem que ser superior aos existentes para ter valor. Ele tem que ser eficaz e, no contexto da resistência, tem que funcionar contra cepas resistentes aos fungicidas existentes.
Esta última propriedade é usualmente associada a um novo modo de ação e idealmente deve existir mais de um local de ação para reduzir o risco de evolução da resistência a um novo fungicida. No entanto, o desenvolvimento de novos, altamente ativos, membros de uma classe existente de fungicida, que retenha o mesmo mecanismo primário de ação, pode igualmente ter algum uso no manejo da resistência. A suspensão de fungicidas por motivos de segurança é necessária de tempos em tempos, porém, isso reduziu as opções de estratégias para prevenção da resistência. Espera-se que planos para futuras suspensões de fungicidas considerem o impacto sobre a diversidade de modos de ação para sustentar os meios de controle de importantes doenças fúngicas na produção de culturas.
Tradução do material “How does Fungicide Resistance evolve” (link). Fonte: FRAC, website www.frac.info.